quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Lincoln (2012)


Lincoln, definitivamente, não é um filme para todos. Com mais de duas horas de duração, uma narrativa lenta e arrastada, acrescido do tema denso e complexo, o filme é para quem realmente gosta de cinema ou de história. Sobretudo a história norte-americana e o cinema desprendido de fórmulas prontas. Abraham Lincoln é interpretado por Daniel Day-Lewis. O ator encarna de forma impecável o cultuado presidente americano. Óbvio que a caracterização do ator e a maquiagem, ajudam muito Abraham tomar vida diante das telas. Mas a atuação de Lewis é que merece o maior crédito. 

A cultura do Herói Americano é um grande clichê que vem sendo implantado por décadas em Hollywood e através de tantos outros meios. Com o ex-presidente não foi diferente. Um ser mítico e dotado de superpoderes, por vezes, é esta a visão que a terra do Tio Sam tenta nos passar de Lincoln. E era isso que eu esperava ver no filme de 2012. Quão grata não foi a minha surpresa ao ver um Abraham humano. Repleto de defeitos, imperfeito, acertando muitas vezes, e errando em muitas outras. Um mestre na vida política, um derrotado na vida pessoal. Acima de tudo, humano.

Incrível semelhança entre Daniel Day-Lewis (E) e o verdadeiro Lincoln (D)

Na vida pública Lincoln era amado pelo povo e temido pelos opositores. Diria um revolucionário. Os olhos do mundo se voltaram para os EUA quando foi abolida a escravidão. A partir dali muitos países passaram a fazer o mesmo. É certo que nada disso teria acontecido se não fosse pela determinação e habilidade política de Lincoln. O filme nos mostra, mais uma vez, que até mesmo aqueles grandes nomes da política, os que ficam para a história como maiores benfeitores da sociedade, até mesmo estes, utilizam-se de práticas escusas em suas estratégias políticas. Abraham Lincoln, para conseguir aprovar a 13ª Emenda, teve de subornar, com cargos e outros favores, boa parte do partido Democrata. Uma briga que deteriorou muito sua saúde e lhe causou grande desgaste, acabou em vitória. Lincoln conseguiu, aprovando a 13ª emenda à Constituição, não só abolir a escravidão nos Estados Unidos, mas também acabou com a guerra civil.

É bem verdade que os meios para atingir esses objetivos não foram de todo legais e honestos. Porém, se não fosse assim, a escravidão seria prolongada por quem sabe mais quantos anos ou décadas. É triste, entretanto o sistema político é podre. Nos Estados Unidos, no Brasil e em qualquer parte do mundo. O que podem fazer os políticos ditos honestos é, muitas vezes, tomar atitudes como a de Lincoln. Usar uma artimanha política para conseguir um bem maior. A diferença é que, no caso do ex-presidente norte-americano, ele não buscou beneficiar-se, nem beneficiar nenhum membro de sua família ou amigo. Ele fez o que fez apenas em busca do bem-estar da nação e, principalmente, do povo negro.


O homem que encantava e entorpecia multidões com seus discursos não tinha a mesma habilidade para com a sua família. Lincoln tinha uma relação muito conturbada com sua problemática esposa, Mary Todd Lincoln (Sally Field) e não conseguia refrear os ímpetos do filho mais velho Robert Todd Lincoln (Joseph Gordon-Levitt). Filho esse que insistia fervorosamente em servir ao exército para lutar na guerra civil americana. Em termos de história não sei o quanto do narrado no filme é verdadeiro e o quanto é apenas licença poética ou o tanto da dramatização que é necessária para dar vida a uma obra cinematográfica. Entretanto, Lincoln constrói uma história bem passível de ser verdadeira e que é, como já mencionado, humana. Os bons filmes, como eu não canso de dizer, são aqueles que nos fazem se identificar com a narrativa e com os personagens. E nisto, essa obra, que eu chamo de “humanização” da figura pública e da pessoa de Abraham Lincoln, acertou em cheio.


Nome original: Lincoln

Direção: Steven Spielberg

País de origem: Estados Unidos

Informações adicionais: O filme é baseado, principalmente, no livro biográfico Team Of Rivals: The Political Genius of Abraham Lincoln, de autoria da escritora Doris Kearns Goodwin.

Premiações: Em 2012, Lincoln foi indicado para sete Globos de Ouro, incluindo Melhor Filme – Drama e Melhor Diretor. Na ocasião, Daniel Day-Lewis venceu na categoria de Melhor Ator (Filme - Drama). Já em 2013, no Oscar, o filme foi indicado em 12 categorias, incluindo a de Melhor Filme. Na época, Lincoln levou os prêmios de Melhor Direção de Arte e Melhor Ator para Daniel Day-Lewis.

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